Intervenção do Presidente da Assembleia Municipal de Sintra

(em representação do Presidente da Câmara Municipal de Sintra)


Domingos Quintas 


As organizações humanitárias desempenham um papel insubstituível na prestação de socorro às vítimas, sejam quais forem os cenários de catástrofe: guerras, sismos, incêndios, acidentes, inundações... e os bombeiros estão sempre em estado alerta, sempre na primeira linha.

Portugal, à imagem de outros países como a Grécia, Espanha, Austrália ou Califórnia, apresentam cada vez mais índices de probabilidade de ocorrência de incêndios de grandes dimensões, em muito devido às desregulações climáticas

Ciclicamente, todos os anos se repetem as tragédias humanas ligadas a incêndios florestais, ocorridas em Portugal desde 1966. 

Foi precisamente, neste ano, que se registou a maior perda de vidas humanas e de património na serra de Sintra permanecendo como uma das mais dolorosas e dramáticas recordações, sobretudo na memória e no coração dos sintrenses, dos militares e familiares das vítimas e dos nossos bombeiros, de então e de hoje.

O que nos reúne aqui, nesta conferência evocativa dos 50 anos do grande incêndio na Serra de Sintra, mais do que um sentido resgate de memória coletiva é, sempre foi desde aquele trágico dia e continuará a ser, uma sentida homenagem, um lamento profundo por aqueles jovens militares que perderam a vida quando esta mais lhes devia sorrir.

Prova deste sentimento de perda que não se desvanece pelo passar dos anos, antes pelo contrário, é a reiterada homenagem prestada a cada dia 7 de setembro, no regimento no qual tem lugar as cerimónias religiosas, no Pico do Monge, pelo Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa N. º1, com o sentimento e o espírito singular próprio de camaradas de armas. 

Permitam-me, a propósito, realçar com muita admiração, o profundo sentimento e a estreita ligação espiritual que observo transparecer a cada cerimónia de homenagem a que tenho tido a honra de assistir, por parte de oficiais e militares, como se os fatídicos acontecimentos tivessem acabado de ocorrer, como se os seus 25 camaradas de Regimento tivessem, consigo, partilhado a coragem, o heroísmo e o orgulho em servir a Pátria.

Relembro, a culminar esta minha singela homenagem, as palavras de D. António de Castro Xavier, arcebispo de Mitilene, há precisamente dez anos, na missa que celebrou em memória das vítimas: "A serra vos deu a morte, que ela vos dê a imortalidade merecida." 

É no passado que residem as nossas raízes e é ele também quem nos confere identidade e transmite aos outros quem fomos e o que, por conseguinte, somos. 

Assim, é uma honra para mim poder saudá-lo pessoalmente, senhor Tenente-Coronel França de Sousa (BV Lisbonenses), agradecendo-lhe duplamente, quer o testemunho inestimável com que impregnou esta conferência e lhe deu uma autenticidade acrescida, quer sobre a forma como viveu esse drama de há 50 anos e a sua coordenação operacional enquanto Comandante dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, quer pela narrativa que nos motiva, ainda mais, a tudo fazer para que tal horror não volte a ser possível acontecer, 

De igual forma, saúdo os senhores comandantes José Alberto Caetano (BV de Almoçageme) e Cristiano Santos (BV de Loures), e demais quadros presentes e ausentes, prestando-lhes o meu reconhecimento pela forma como assumiram a coordenação dos trabalhos de extinção, evitando danos maiores.

Este espaço de homenagem àqueles que perduram na nossa memória é, também, uma excelente oportunidade para refletir sobre o que tem sido feito para tornar residual o risco de um médio ou grande incêndio na Serra de Sintra. 

E porque podemos sempre melhorar, podemos e devemos aperfeiçoar a estratégia global de vigilância e fiscalização deste magnífico perímetro florestal, quer aprofundando e articulando, ainda de forma mais estreita e eficiente, a operacionalidade da rede de parcerias quer na criação de novos instrumentos de intervenção e vigilância de toda a nossa mancha florestal.

No que concerne à rede operacional de parcerias que assegura, atualmente, a vigilância preventiva de todo o perímetro florestal do Parque Natural Sintra-Cascais, esta é, já, de excelência e dela fazem parte:

- As Corporações de Bombeiros de Sintra, São Pedro, Colares e Almoçageme, que articulam entre si a vigilância da serra nos meses críticos de julho, agosto e setembro;

- A instituição militar, com participação no terreno do Regimento de Comandos da Serra da Carregueira, do Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa N.º 1, de Queluz e da Guarda Nacional Republicana - Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente, com postos de vigia em Nafarros (Sintra), na Pedra Amarela e em Alcoitão (Cascais);

- Por sua vez, a Parques de Sintra - Monte da Lua, tem instalado no Palácio da Pena um sistema de vídeo vigilância de longo espectro; e

- O Serviço Municipal de Proteção Civil, através do seu gabinete técnico florestal, centraliza as atribuições da Comissão Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios, aos níveis municipal e intermunicipal, desempenhando ações de defesa da floresta contra incêndios.

A partir desta rede de vigilância e ação preventiva descrita, podemos apercebermo-nos por que motivo toda esta imponente mancha florestal tem subsistido incólume, verão após verão.

Todavia, queremos ir ainda mais além não apenas porque o valiosíssimo património natural, edificado e humano não nos permite acomodar ao que de bom tem sido feito para a sua salvaguarda como, também, e é preciso que o tenhamos bem presente, existem uma multiplicidade de fatores em regeneração, de entre os quais destaco, o crescimento exponencial do turismo e toda a atração de serviços que faz gerar, aumentando desta forma a pressão e o risco sobre a preservação do parque florestal. 

Assim, estão a ser dados passos no sentido da criação de um corpo de Sapadores Florestais municipal, que vai permitir, estamos certos, uma maior acessibilidade em toda a extensão do Parque Natural.

Mas há muita coisa a fazer tendo em vista mais e melhor segurança das pessoas que no visitam. Não estamos satisfeitos com a acessibilidade a este património que é do mundo. Muito, mas mesmo muito, há a fazer.

Para terminar e agradeço o convite que foi feito ao Presidente da Câmara e ao Presidente da Assembleia Municipal, realço a importância de fóruns como este que a Associação REVIVER MAIS nos possibilitou vivenciar, assente num misto de resgate de memória, de homenagem coletiva aos heróis de ontem e de hoje, de reflexão, de partilha e de despertar de consciências para a ação que nos é exigida porque todos nós somos guardiões de inestimáveis Patrimónios. 

A todos Muito Obrigado.

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